CURSO
INTELECTUAIS NEGRAS
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escritas de si, saberes transgressores e práticas educativas de mulheres negras

não podemos
errar
por Nathália Braga
Quem nunca discutiu ou fez uma fala importante, mas só pensou uma argumentação excelente momentos depois do término? Foi exatamente assim que Starr Carter se sentiu após depor na delegacia sobre o assassinato de Khalil.
[ESSE TEXTO CONTÉM SPOILERS]
Frequentemente o sentimento de culpa domina as pessoas negras. A autocobrança duela com o arquétipo de força historicamente impresso pela escravidão sobre nossos corpos. Para Starr, todas as suas ações desencadeiam em um desserviço a comunidade negra de Garden Heights e, principalmente, ao legado de Khalil.
A jovem intelectual negra Stephanie Ribeiro explica, com o texto “Nós negros não morremos só de tiros: eu tenho depressão” parte da letalidade deste estereótipo:
“Esses são apenas alguns dos estigmas que nos são dados só por sermos negros, e um dos que mais consigo me identificar é o de que "negros precisam ser fortes". E ser forte é não chorar, não ceder, não mostrar o que sente mesmo em situações adversas de impacto. (...) A cobrança da mulher negra que aparentemente "não sente nada e lida bem com tudo", é um resquício da ideia de que somos mais objeto do que gente.
(...)
A ansiedade, a angústia, a falta de confiança em si, o auto-boicote. Estamos falando de dores do passado, do presente e da dificuldade em saber lidar com o que virá. Estamos falando de uma população marginalizada, perseguida e cansada.”
Foi com este texto-artilharia utilizado em sala que frases fizeram coro a Stephanie e Starr, como:
“Eu não consigo admitir que posso errar”
“Errar é como se fosse um privilégio”
“É que tudo precisa compensar o fato de sermos negros”
Também levamos esse conjunto de inseguranças e opressões para a formação da nossa intelectualidade e o trabalho de modo geral. É por isso que até quando tudo está aparentemente bem, somos capturados pela ‘síndrome do impostor’, como a youtuber Gabi Oliveira abordou em seu canal (vídeo).
Para além de refletirmos sobre genocídio, também abraçamos o desafio de pensar possibilidades de renascimento e agência para pessoas negras. Por isso, no próximo texto compilamos algumas dicas e referências sobre autocuidado resultantes da nossa roda de conversa.