CURSO
INTELECTUAIS NEGRAS
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Escritas de si, saberes transgressores e práticas educativas de mulheres negras

COR DE PELE,
COR DE ALVO
por Nathália Braga
Somente em 2012, 56 mil pessoas foram assassinadas no Brasil. Destas 56 mil, 30 mil tinham entre 15 e 29 anos, e 77% destes jovens eram negros. Cor-de-alvo-policial, assim como Khalil, personagem de ‘O Ódio que Você Semeia’.
[ESTE TEXTO CONTÉM SPOILERS]
A violência atravessa a vida das pessoas negras até mesmo quando se trata da busca pela justiça. Enquanto a série Grey’s Anatomy exibe o momento em que pais negros são obrigados a ensinar ao filho como se comportar em uma abordagem policial (vídeo), fizemos a leitura do texto ‘Quilombolas! For ever’ de Cidinha da Silva.
"o desespero de zumbi
não dá no jornal"
“O acordo é tácito, cada um sabe o que fazer para tentar preservar a vida. Winnie, a mãe, não suportaria perder mais um filho para a guerra. Eles querem viver, acima de tudo.”
- Cidinha da Silva
Starr, a protagonista do romance de Angie Thomas, também precisou contar com o apoio psicológico da família até conseguir comparecer à polícia para depor:
“Você pode nos dizer o que aconteceu na noite do incidente?”.
“O policial o revistou três vezes? Mas Khalil não ficou parado, ficou?”.
“Você sabe se Khalil vendia narcóticos?”.
“Vocês consumiram álcool na festa?”.
Na Língua Portuguesa, a palavra ‘alvo’ tem diferentes sentidos. Enquanto adjetivo, se refere ao que é branco e inocente. Enquanto substantivo, porém, é um ponto que se procura atingir, ainda que figuradamente. É um objeto de interesse. No livro, Starr é alvo de perguntas enviesadas que buscavam defender um policial alvo, ou seja, branco.
E assim como o ‘quilombola’ Zumbi da crônica de Cidinha da Silva, o desespero de Garden Heights não dá no jornal. A mídia ora omite o ponto de vista das vítimas, ora traz a história do assassinato a tona condenando Khalil e retratando as manifestações do bairro como um “povo negro bárbaro”.